Este mês, a Dra. Rita Rodrigues, membro da nossa equipa de médicos dentistas de excelência em Lisboa, fala-nos sobre “O Impacto dos Alimentos na Saúde Oral“:
Já toda a gente está familiarizada com o perigo que os açúcares representam no nosso estado de saúde geral, que envolve também a saúde oral. A relação causa-efeito entre açúcares e cárie dentária é algo reconhecido por praticamente toda a população, daí que todos saibamos que se deva evitar o consumo excessivo de doces, bolos, gomas, rebuçados, chocolates e por ai fora.
No entanto, mesmo quem põe todas estas guloseimas de parte pode vir a ter outras preocupações.
Da “idade da pedra” aos dias de hoje, os nossos padrões alimentares modificaram-se e a adaptaram-se às nossas exigências e modernização do mundo em que vivemos. A introdução e ampla distribuição de açúcares e hidratos de carbono processados, ao longo dos anos, tem vindo a aumentar o índice de cárie dentária, afetando desde crianças a adultos e idosos.
Desde o início do século XXI contudo, têm-se verificado uma mudança de paradigma e uma tentativa global de adoção de uma alimentação equilibrada que vise a saúde.
Este conceito de alimentação saudável é no entanto muitas vezes substituído por outros como “dieta” e “regime” ou “plano de emagrecimento”, sobretudo a partir de meados de Abril até finais de Agosto.
Toda a gente quer fazer aquele figuraço dentro do biquini ou a andar pela praia à beira mar, nem que para isso seja preciso quase andar a contar calorias daquilo que comemos nos meses antes.
Sem querer julgar os vários planos dietéticos ou dizer se eles fazem ou não sentido, facto é que não existe nada mais saudável que uma alimentação variada, equilibrada e claro, sem grandes excessos. Porque tudo o que seja com peso e medida não traz problemas, mas nestes regimes alimentares por vezes acontecem excessos.
Parece contraditório não parece? Alguém que quer perder peso (ou pelo menos não engordar) como poderá exagerar? E em quê?
Alimentos X Problemas Dentários
E já agora, o que é que isso interfere com a nossa boca?
Passemos então ver quais os problemas dentários que podem decorrer do consumo exagerado de determinados alimentos, ainda que inofensivos à primeira vista.
Cárie Dentária
Revendo um pouco a medicina da questão, a cárie dentária surge da interação de 3 factores: bactérias, que existem naturalmente na nossa boca; alimentação, em particular a frequência de consumo de açúcares e hidratos de carbono fermentáveis; e suscetibilidade dos dentes, influenciada pelo tempo. A ação da saliva aliada a bons hábitos de higiene oral, por outro lado, funcionam como agentes de proteção contra esta doença.
Que doçarias fazem mal é de conhecimento geral. Mas que mais alimentos dietéticos aumentam o risco de cárie?
- Pão: Sei que nem todas as dietas o permitem mas para aquelas em que até se aconselha, importa ter em conta que este é um dos alimentos a ter em atenção. Além da sua constituição incluir os ditos hidratos de carbono fermentáveis, o amido presente confere também maior viscosidade e aderência, o que permite uma maior retenção nas superfícies dentárias.
- Bolachas e barras de cereais: Mesmo as bolachinhas de água e as barrinhas “fit” para enganar a fome a meio do dia, constituem, à semelhança do pão, alimentos pegajosos que vão aderir aos dentes; ademais dependendo dos aditivos que estas últimas incluam, como pequenas pepitas de chocolate ou frutas desidratadas o risco de cárie poderá aumentar.
- Batatas fritas: Super contra-indicadas para quem quer uma barriga lisa, mas ainda assim fica a nota que até as “light” têm amido, que como já descrito em cima, dá ao bolo resultante das “chips” a capacidade de se manter colado aos dentes.
- Frutas desidratadas: Qualquer fruta contém açúcar mas no entanto estes snacks destacam-se das demais como inimigos da saúde oral pelo facto de permitirem, também através da sua aderência, a permanência de açúcar nas superfícies do esmalte.
- Bebidas energéticas: E aliado à dieta tem que existir desporto. E no meio do treino em vez de água há quem opte por estas alternativa para aumentar o rendimento. Mas atenção que muitos destes complementos desportivos possuem açúcares adicionados.
- Refrigerantes: Mesmo aqueles que se vendem como “0% de açúcar”, independentemente de ser verdade ou não, podem contribuir para o aumento do risco de cárie. Isto porque a grande maioria destas bebidas são carbonatadas e aceleram a desmineralização do esmalte tornando-o mais susceptível.
- Bebidas alcoólicas: O mecanismo de ação do álcool difere dos demais uma vez que estas bebidas não fornecem substrato prejudicial mas vão diminuir a quantidade de saliva, que é um dos agentes protetores contra a cárie.
Erosão Dentária
Apesar da cárie ser o grande problema dentário quando se fala de cuidados na alimentação, existe uma outra condição que também pode ser motivo de preocupação. O desgaste químico dos dentes ou erosão dentária consiste na destruição dos tecidos duros do dente por acidificação da superfície, sem o envolvimento de bactérias, e ao contrário da prevalência de cárie que tem vindo a diminuir, esta tem vindo a aumentar.
E eis os produtos alimentares que podem contribuir para a erosão dentária:
- Refrigerantes: Já mencionados na secção anterior, estas bebidas por serem acidificadas, para além de propiciar o desenvolvimento da cárie, podem provocar este desgaste químico do esmalte.
- Limonadas e citrinos: Quem usa e abusa do limão ou do sumo de laranja tem que ter algum cuidado e travar esse hábito, pois apesar de serem óptimas fontes de vitamina C, esta gama de frutas é extremamente ácida e consegue baixar drasticamente o pH do meio oral, isto é, promove a dita acificação que desgasta os dentes.
Claro que todos estes alimentos e bebidas, desde tomados com moderação, podem fazer parte de um plano de alimentação saudável, sem que isso signifique um risco significativo para a nossa saúde oral. A nossa boca é um sistema em equilíbrio dinâmico e se por um lado temos agentes como a placa bacteriana e os açucares ingeridos como factores prejudiciais, a desmineralizar o esmalte, por outro temos a saliva e o flúor com uma função de auto-limpeza e remineralização destas superfícies.
Falemos agora de outro flagelo, não da saúde mas da estética dentária.
Pigmentação Dentária
O inestético aparecimento de manchas à superfície dos dentes designa-se por pigmentação dentária extrínseca e pode ser causada pela nossa dieta. Pigmentos e corantes que se encontram em certos alimentos e bebidas depositam-se e aderem à superfície dentária. Como resultado, aquele sorriso branco de Hollywood vai-se distanciando cada vez mais da nossa realidade. Felizmente, a saliva tem a capacidade de auto-limpeza e remoção da maior parte destes depósitos cromáticos. Aliando a de bons hábitos de higiene oral diária e consultas periódicas com higienista os efeitos da pigmentação são facilmente revertidos.
Eis os principais causadores da pigmentação nos dentes:
- Café: Praticamente todo o bom português começa o seu dia com uma chávena de café. E por norma não é o único do dia. Este hábito, profundamente enraízado na nossa cultura, tem os seus benefícios mas no entanto, e mesmo deixando o pacotinho de açúcar de lado, tem consequências nos nossos dentes, sendo o mais evidente a coloração deixada pelo seu pigmento castanho.
- Chá: Constitui a segunda bebida mais consumida mundialmente, apenas com a água na sua frente, e existe numa enorme variedade de sabores, para todos os tipos de paladares. Apesar dos muitos benefícios que possui, esta bebida, tal como o café, possui taninos, moléculas que se depositam na superfícies do esmalte e lhe conferem uma cor amarelo-acastanhada.
- Vinho tinto: Muito aclamado no exterior, o bom vinho tinto português infelizmente também possui imensos cromogénios que se incorporam nas superfícies dentárias dando aos dentes um aspecto mais escurecido.
- Frutos vermelhos, açaí e beterraba: Esta gama de frutas possui pigmentos em comum como a antocianina, reponsabel pelas intervalo de cores de vermelho roxo e azulado, que também tem a capacidade de escurecer os dentes quando se instala nas suas superfícies,
- Molho de soja e vinagre balsâmico: Além que conterem pigmentos e corantes adicionados, estes dois complementos das refeições são ácidos, que vai aumentar a captação destas substancias pelos dentes, dando-lhes colorações mais escuras.
- Molho de tomate e Ketchup: O vermelho forte do tomate provém do pigmento licopeno. Também vai manchar os dentes deixando um tom amarelo-alaranjado.
Para além do acima enunciado, é necessário ressalvar que também os alimentos e bebidas que podem causar erosão dentária (abordada anteriormente), podem agravar as pigmentações pela capacidade de desgastar os dentes, dada pela acidez, e portanto criar rugosidades nos dentes e agarrar mais estas substancias cromogénicas.
E após este tópico, segue-se outro cuja importância também reside no impacto social.
Halitose
Nem sempre lhe é dada a devida atenção, mas o a halitose, ou o vulgar mau hálito, quando frequente constitui um problema médico sério que pode ter um impacto bastante significativo na qualidade de vida. Apesar de ter várias causas, a nossa alimentação pode ser uma delas.
Eis os alimentos que podem contribuir para mau hálito e dar aquele “bafinho”:
- Alho e Cebola: Estes vegetais, da mesma família, são indispensáveis em qualquer refogado. Utilizados no tempero da maioria das refeições e para acompanhamento estes dois alimentos após a ingestão originam compostos voláteis que causam o dito mau hálito e sensação de mau gosto.
- Temperos: No caso dos picantes, verifica-se o mesmo mecanismo anterior, sendo que a sensação de halitose pode durar até 72 horas após a ingestão.
- Durião/Durian: Considerada como a fruta mais malcheirosa do mundo pelos internautas. Da forma de coco, coberto com espinhos, este fruto tem uma polpa cremosa com sabor agridoce, muito apreciado pelos habitantes do sudeste asiático. O seu odor e sabor peculiares está relacionado com a sua composição em compostos sulfurados voláteis.
Fracturas Dentárias
Em muito poucos casos acontecem fracturas em dentes saudáveis, devidas àquilo que comemos. Desde o tempo do homem da pedra, os alimentos que ingerimos cada vez menos conseguem por à prova o duro limite de resistência do esmalte. Contudo, e apesar das principais causas dos traumas se centrarem em quedas, acidentes e contactos desportivos, e raramente incluirem a mastigação, existem alguns alimentos que podem levar a pequenos cracks ou fracturas nas nossas superfícies dentárias. Principalmente em dentes com tratados com restaurações extensas ou recobrimentos provisórios, a sua resistência poderá estar diminuída tornando-os mais suscetíveis a estes percalços.
- Pão Duro: É capaz de ser um dos quebra-dentes mais relatados pelos pacientes, também pela globalização de ingestão deste alimento. Apesar de não consistir uma ameaça em dentes saudáveis, restaurações provisórias tendem a ceder dadas as forças tangenciais exercidas quando rasgamos com os dentes o nosso belo pãozinho ou torradinha com manteiga;
- Rebuçados: Não aquele tipo que se amarra aos dentes e que para tirar é uma dor de cabeça (esses gostam é de contribuir na parte da cárie) mas sim aqueles de consistência mais dura que não são de todos feitos para trincar.
- Pipocas: É sinónimo de filme e cinema, cuja experiência não é a mesma sem ter o balde à frente. O perigo das pipocas está escondido nas pequenas bagas de milho que não estouram e que são capazes de nos causar uma desagradável surpresa.
- Cerejas: Quem não gosta desta fruta sazonal cheia de anti-oxidantes? Cuidado.. há um caroço bem duro de roer no meio.
- Gelo: Com a chegada do verão e do calor, há quem não resista a ficar a trincar os cubos de gelo flutuantes presentes em qualquer bebida nesta altura. A pagofagia, nome dado ao hábito de mastigar cubos de gelo, pode acarretar um maior risco de cracks de esmalte e fratura de restaurações dado o aumento da dureza da agua neste estado sólido.
Resumindo, tudo é uma potencial ameaça aos nossos dentes? Não, claro que não! Praticamente todos os itens acima referidos fazem e deve fazer parte de uma alimentação equilibrada.
Apesar dos efeitos “colaterais” acima descritos, existem também bastantes vantagens do ponto de vista nutricional e de saúde geral nestes alimentos que os tornam fundamentais.
Além disso, como já referido por várias vezes neste artigo, a nossa saliva consegue lidar com a maior parte destes pequenos malefícios. E complementando a remoção mecânica da placa bacteriana em casa, que inclui a escovagem bidiária e utilização de fio dentário, com consultas de higiene oral periódicas todos estes problemas podem passar ao lado.
Deste modo, serve o presente não para excluir nutrientes da nossa rotina diária mas sim para dar a conhecer ou abordar certos conceitos, dar algumas dicas e prover de ferramentas para controlar eventuais situações orais que nos podem acometer.
“Super” Alimentos ajudam na Saúde Oral
E como nem tudo é negro, aqui ficam alguns alimentos que podem ajudar também a combater essas mesmas situações e ajudar a manter o equilíbrio saudável da nossa boca.
- Água: É barata, tem zero calorias, e está mais que comprovado que faz bem à saúde. Ademais, até a água canalizada por ser fluoretada apresenta benefícios na prevenção da cárie dentária.
- Leite, Iogurtes Naturais, Queijo: Com baixos valores de açúcar, estes alimentos não só implicam um baixo risco de promoção de cáries como pensa-se que tenham a capacidade de remineralizar o esmalte.
- Maçã: Pela sua quantidade de água e textura fibrosa, ajuda a contrabalançar os açucares e promove a auto-limpeza das superfícies dentárias.
- Nozes, Amêndoas e Avelãs: Ricos em proteínas e sais minerais estes frutos secos são compostos com mínimos de hidratos de carbono fermentáveis e não propiciam o aparecimento de lesões de cárie.
- Ovos, Carne e Peixe: São alimentos proteicos com capacidade de fornecer substancias que atuam na proteção do esmalte.
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